Você já parou para pensar em como o turbilhão do dia a dia, com suas preocupações com o futuro e as lembranças do passado, muitas vezes nos impede de realmente viver o presente? Sentimos, pensamos, agimos, mas nem sempre estamos plenamente conscientes do que está acontecendo AGORA. Se essa sensação te parece familiar, a Gestalt-terapia pode ser uma abordagem que vale a pena conhecer.

Mais do que um tipo de terapia, a Gestalt-terapia é uma forma de ver o mundo e a si mesmo, um convite para experimentar a vida de forma mais completa, presente e autêntica. Neste artigo, vamos desvendar os mistérios dessa abordagem fascinante e entender como ela pode ser um caminho para um maior autoconhecimento e bem-estar.

O Que Significa “Gestalt”?

A palavra “Gestalt” vem do alemão e não tem uma tradução exata para o português, mas pode ser entendida como “forma”, “configuração”, “todo organizado” ou “padrão”. A ideia central por trás desse conceito é poderosa: o todo é maior do que a soma de suas partes.

Imagine uma música. Ela não é apenas uma sequência de notas soltas; é a melodia, a harmonia, o ritmo – a forma como essas notas se unem para criar algo significativo. Da mesma forma, a Gestalt-terapia nos vê como seres integrais, onde nossos pensamentos, sentimentos, sensações corporais e ações estão todos interligados, formando uma unidade complexa e única. Não podemos nos entender fragmentando-nos em pedacinhos.

Uma Breve Jornada no Tempo: Como a Gestalt-terapia Nasceu

A Gestalt-terapia foi criada na década de 1940 por Fritz Perls, um psiquiatra e psicanalista alemão, em colaboração com sua esposa Laura Perls, psicóloga e filósofa, e o sociólogo Paul Goodman. Eles buscavam uma abordagem que fosse além do que existia na época, que desse mais valor à experiência direta do indivíduo e à sua capacidade inata de se equilibrar e se desenvolver.

Perls e Laura foram influenciados por diversas áreas do conhecimento:

• Filosofia Existencialista: Que enfatiza a liberdade, a responsabilidade individual e a busca de sentido na vida.
• Fenomenologia: Uma forma de estudar a experiência humana como ela se apresenta, sem preconceitos ou interpretações precipitadas.
• Psicologia da Gestalt: De onde veio o nome e a ideia de que nossa mente naturalmente organiza informações em “totalidades”.
• Teatros Orientais e o Zen-Budismo: Que trouxeram a valorização da consciência plena e da presença no momento.

Essa mistura rica de ideias resultou em uma terapia que é ao mesmo tempo profunda e prática, focada na experiência do aqui e agora.

Os Pilares da Gestalt-terapia: Conceitos Chave para Entender a Abordagem

Para compreender como a Gestalt-terapia pode transformar sua vida, é importante conhecer alguns de seus princípios fundamentais:

1. O Foco no Aqui e Agora: Este é o coração da Gestalt-terapia. Em vez de ficar preso ao que aconteceu no passado ou ansioso com o que pode vir no futuro, a terapia te convida a prestar atenção total ao momento presente. Se você está preocupado com o futuro, a terapia investiga essa ansiedade AGORA. Se um evento passado te incomoda, o trabalho é trazê-lo para o presente, re-experimentá-lo e processá-lo para que você possa se libertar dele. A Gestalt entende que o poder de mudar está sempre no presente.
2. Contato e Fronteira de Contato: Pense no contato como a forma como você se relaciona com o mundo, com as pessoas, com suas emoções e com seus próprios pensamentos. É uma troca viva entre você e o que está fora (ou dentro) de você. A “fronteira de contato” é esse espaço onde você e o ambiente se encontram. Problemas psicológicos frequentemente surgem quando há dificuldades nesse contato – por exemplo, quando nos isolamos demais, nos misturamos tanto com o outro que perdemos quem somos, ou evitamos certas experiências. A terapia busca restaurar um contato mais pleno e consciente.
3. Awareness (Consciência Plena): É a capacidade de perceber o que está acontecendo em você e ao seu redor, momento a momento. Isso inclui suas sensações físicas (calor, frio, tensão), suas emoções (alegria, raiva, tristeza), seus pensamentos, seus desejos e tudo o que está no ambiente. Aumentar o “awareness” é o objetivo central da Gestalt-terapia, porque quando você se torna mais consciente, você ganha mais liberdade para fazer escolhas diferentes e promover a mudança.
4. Responsabilidade Pessoal: Na Gestalt-terapia, você é convidado a assumir a responsabilidade por suas escolhas, seus sentimentos e suas ações. Isso não é sobre culpar-se, mas sobre reconhecer seu próprio poder de agir e reagir no mundo. Em vez de dizer “isso me deixa triste”, você pode explorar “eu me sinto triste em relação a isso”. Essa mudança de linguagem ajuda a pessoa a se sentir mais no controle da sua própria experiência.
5. Autorregulação Organísmica: Acredita-se que todo ser humano tem uma capacidade inata de buscar o equilíbrio e de satisfazer suas necessidades. Nosso organismo é sábio! Quando essa capacidade é bloqueada por experiências passadas, medos ou crenças limitantes, surgem os problemas. A terapia atua removendo esses bloqueios para que você possa voltar a fluir naturalmente em direção ao bem-estar.
6. O Ciclo do Contato (ou Ciclo da Experiência): Este é um modelo que descreve como nossas necessidades surgem, como nos mobilizamos para satisfazê-las, como fazemos contato, como assimilamos a experiência e como nos recolhemos para uma nova necessidade surgir. Interrupções nesse ciclo (por exemplo, quando não expressamos nossa raiva, não nos permitimos sentir prazer, ou não conseguimos “fechar” uma situação) são a fonte de muitos sofrimentos e são o foco de exploração na terapia.

Como é uma Sessão de Gestalt-terapia na Prática?

Em uma sessão de Gestalt-terapia, o terapeuta não se posiciona como um “especialista que sabe tudo” ou que vai dar conselhos prontos. Ele é um facilitador, um guia que te acompanha em sua jornada de autodescoberta. A relação é de colaboração, com o terapeuta presente, autêntico e genuíno.

A terapia é muito experiencial. Isso significa que, além da conversa, o terapeuta pode propor “experimentos” ou “exercícios” que surgem no momento da sessão, baseados no que você está vivenciando. Exemplos incluem:

• A Cadeira Vazia: Você pode ser convidado a conversar com uma cadeira vazia, imaginando que ela representa uma parte sua, uma pessoa ausente ou um sentimento. Isso ajuda a trazer emoções à tona e a explorar diferentes perspectivas.
• Amplificação: Se você faz um gesto repetitivo, ou se sua voz muda ao falar de algo, o terapeuta pode te pedir para “amplificar” isso – repetir o gesto, falar mais alto, para que você perceba melhor o que está acontecendo e o que isso significa.
• Consciência Corporal: O terapeuta frequentemente vai te convidar a prestar atenção às suas sensações corporais (tensão nos ombros, nó na garganta, formigamento), pois o corpo é visto como um “mapa da experiência” e armazena muitas de nossas emoções e histórias não contadas.
• Trabalho com Sonhos: Na Gestalt, os sonhos não são interpretados como símbolos ocultos, mas vistos como partes de você. O terapeuta pode te convidar a “encenar” o sonho, dando voz aos elementos presentes nele, para que você re-experimente e integre essas partes.

A ideia é que, ao experienciar no agora, você ganhe insights e awareness que permitam a mudança.

Para Quem a Gestalt-terapia Pode Ser um Caminho?

A Gestalt-terapia é uma abordagem bastante flexível e pode ser útil para uma grande variedade de pessoas e situações, incluindo:

• Quem busca Autoconhecimento Profundo: Se você quer entender melhor seus padrões de pensamento, suas emoções e como você se relaciona com o mundo.
• Pessoas com Ansiedade e Medos: Ajuda a lidar com a ansiedade que vem do excesso de preocupação com o futuro e a enfrentar medos de forma gradual e consciente.
• Indivíduos com Depressão: Foca em restaurar o contato com o ambiente e com as próprias necessidades, ajudando a quebrar o ciclo de isolamento e inatividade.
• Dificuldades de Relacionamento: Melhora a comunicação, a capacidade de expressar necessidades e de estabelecer limites saudáveis.
• Crises Existenciais: Oferece um espaço seguro para explorar questões sobre o sentido da vida, propósito, liberdade e responsabilidade.
• Processos de Luto e Perdas: Facilita a assimilação da perda e o “fechamento” de ciclos.
• Estresse Crônico e Burnout: Ajuda a pessoa a se reconectar com suas necessidades, limites e a desenvolver maior consciência sobre como gerenciar a energia vital.
• Questões de Autoestima e Autoconfiança: Promove a aceitação de si e a capacidade de se expressar autenticamente.

O Convite Final: Viva Plenamente no Presente

A Gestalt-terapia não oferece soluções prontas, mas sim um caminho para que você descubra suas próprias respostas. Ela te convida a estar mais presente, a se responsabilizar por suas escolhas, a experimentar suas emoções sem fugir delas, e a fazer contato de forma genuína com o que realmente importa.

É um processo que pode trazer mais vitalidade, autenticidade e satisfação para sua vida, ajudando você a se tornar mais inteiro e a viver o “aqui e agora” com todos os seus sentidos. Se essa jornada ressoa com você, buscar um Gestalt-terapeuta qualificado pode ser o primeiro passo para uma transformação profunda.