Coqueluche: Uma Doença Respiratória Altamente Contagiosa e Prevenível

A coqueluche, também conhecida como pertussis ou tosse comprida, é uma doença respiratória aguda e altamente contagiosa, causada pela bactéria Bordetella pertussis. Caracteriza-se por crises de tosse violentas e incontroláveis, que podem dificultar a respiração, a alimentação e o sono. Embora possa afetar pessoas de todas as idades, é particularmente perigosa para bebês e crianças pequenas, que podem desenvolver complicações graves e até fatais.
O Agente Causador e a Transmissão
A coqueluche é causada pela bactéria Bordetella pertussis. A transmissão ocorre de pessoa para pessoa através de gotículas respiratórias liberadas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. O período de incubação (tempo entre a exposição e o aparecimento dos sintomas) é geralmente de 7 a 10 dias, podendo variar de 6 a 20 dias.
A doença é altamente contagiosa, especialmente nas fases iniciais e durante as primeiras duas semanas de tosse. Adultos e adolescentes, muitas vezes com sintomas mais leves ou atípicos, podem ser portadores da bactéria e transmiti-la inadvertidamente para bebês e crianças não vacinadas ou parcialmente vacinadas.
Fases da Doença e Sintomas
A coqueluche geralmente evolui em três fases distintas:
- Fase Catarral (1 a 2 semanas):
- Nesta fase inicial, os sintomas são semelhantes aos de um resfriado comum: coriza, espirros, febre baixa e uma tosse leve ocasional.
- É a fase mais contagiosa, pois a bactéria está ativamente se multiplicando e sendo expelida. O diagnóstico pode ser difícil nesta fase.
- Fase Paroxística (1 a 6 semanas, podendo durar até 10 semanas):
- A tosse torna-se mais grave e característica. Ocorre em acessos violentos e incontroláveis (paroxismos), especialmente à noite.
- Após uma série de tosses rápidas e curtas, a pessoa tenta inspirar profundamente, produzindo um som de “guincho” ou “coqueluche” característico (daí o nome “tosse comprida”). Este som é mais comum em crianças pequenas.
- Os acessos de tosse podem ser tão intensos que causam vômitos, exaustão, rosto avermelhado ou azulado (cianose) devido à falta de oxigênio.
- Em bebês, os acessos de tosse podem ser seguidos por períodos de apneia (pausa na respiração) e cianose, sem o som de guincho.
- Fase de Convalescença (Semanas a meses):
- A frequência e a intensidade dos acessos de tosse diminuem gradualmente.
- A tosse ainda pode persistir por várias semanas ou meses, especialmente com infecções respiratórias secundárias. A recuperação é lenta.
Complicações
As complicações da coqueluche são mais frequentes e graves em bebês menores de 1 ano, especialmente aqueles não vacinados ou com vacinação incompleta. As principais complicações incluem:
- Em Bebês e Crianças Pequenas:
- Pneumonia: É a complicação mais comum e a principal causa de morte relacionada à coqueluche.
- Apneia e cianose: Paradas respiratórias e coloração azulada da pele.
- Convulsões.
- Encefalopatia (danos cerebrais): Rara, mas grave, devido à falta de oxigênio prolongada.
- Desnutrição e desidratação: Devido aos vômitos e dificuldade para se alimentar.
- Fraturas de costela ou hérnias: Causadas pela força da tosse.
- Em Adolescentes e Adultos:
- Menos graves, mas podem incluir pneumonia, fraturas de costela, perda de peso, desmaios e incontinência urinária durante os acessos de tosse.
Diagnóstico
O diagnóstico da coqueluche é desafiador na fase inicial devido aos sintomas inespecíficos. Na fase paroxística, o quadro clínico é mais sugestivo. A confirmação laboratorial é crucial:
- Cultura de secreção nasofaríngea: Coleta de material da parte de trás do nariz e garganta para isolar a bactéria. É o “padrão ouro”, mas pode ser negativa se o paciente já estiver usando antibióticos ou na fase avançada da doença.
- PCR (Reação em Cadeia da Polimerase): Detecção do material genético da bactéria em secreções nasofaríngeas. É o método mais sensível e rápido, útil principalmente nas primeiras semanas de doença.
- Sorologia: Pesquisa de anticorpos no sangue, útil para diagnóstico em fases mais tardias da doença ou em adultos.
Tratamento
O tratamento da coqueluche geralmente envolve o uso de antibióticos para eliminar a bactéria. Os mais comuns são os macrolídeos (como azitromicina, claritromicina ou eritromicina).
- Início precoce: A antibioticoterapia é mais eficaz se iniciada na fase catarral (primeiras 1 a 2 semanas dos sintomas), pois pode encurtar a duração e a gravidade da doença, além de reduzir a transmissibilidade.
- Fase paroxística: Mesmo que os antibióticos não curem a tosse nesta fase, eles são importantes para eliminar a bactéria e reduzir a capacidade de transmissão.
- Tratamento de suporte: Em bebês e crianças pequenas, a hospitalização pode ser necessária para monitoramento respiratório, suporte de oxigênio, hidratação e nutrição.
- Isolamento: Pessoas com coqueluche devem ser isoladas para evitar a transmissão, especialmente durante as primeiras semanas de tratamento ou enquanto forem consideradas infecciosas.
Prevenção: A Importância da Vacinação
A vacinação é a medida mais eficaz para prevenir a coqueluche e reduzir sua gravidade e mortalidade.
- Vacina DTPw ou DTPa (Difteria, Tétano e Coqueluche): No Brasil, a vacina contra coqueluche é oferecida na forma da vacina pentavalente (que inclui difteria, tétano, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo B) para bebês, geralmente administrada em três doses (aos 2, 4 e 6 meses), e reforços aos 15 meses e aos 4 anos de idade.
- Vacina dTpa (Difteria, Tétano e Coqueluche acelular): É a vacina de reforço para adolescentes, adultos e, crucialmente, para gestantes.
- Vacinação de Gestantes: A vacinação de gestantes (geralmente entre a 20ª e a 36ª semana de gestação) com a dTpa é fundamental. Os anticorpos produzidos pela mãe são transferidos para o feto, protegendo o bebê nos primeiros meses de vida, quando ele é mais vulnerável e ainda não completou seu esquema vacinal. Essa estratégia é conhecida como imunização passiva ou “estratégia do casulo ampliado” (proteção do bebê por meio da vacinação dos contatos próximos).
- Vacinação de Contatos Próximos: Recomenda-se que familiares e cuidadores de bebês, bem como profissionais de saúde, estejam com a vacinação dTpa em dia.
Apesar da vacinação, surtos de coqueluche ainda podem ocorrer, muitas vezes devido à diminuição da imunidade ao longo do tempo (principalmente em adultos) e à falta de cobertura vacinal completa em algumas populações. Por isso, a manutenção da vacinação em todas as faixas etárias e a conscientização sobre a doença são essenciais.
A Coqueluche em Santo André e no Brasil
Como em todo o Brasil, Santo André, no estado de São Paulo, segue as diretrizes do Ministério da Saúde para o controle da coqueluche, que enfatizam a vacinação como principal ferramenta. A notificação de casos suspeitos e confirmados é compulsória para monitorar a situação epidemiológica e implementar medidas de controle. Campanhas de vacinação e a conscientização da população, especialmente de pais, gestantes e profissionais de saúde, são contínuas para manter a doença sob controle e proteger os grupos mais vulneráveis.
Conclusão
A coqueluche é uma doença séria, mas altamente prevenível. A vacinação oportuna, especialmente em bebês e gestantes, é a estratégia mais eficaz para proteger a comunidade e evitar as complicações graves. Se você ou alguém que você conhece apresentar sintomas de coqueluche, procure atendimento médico imediatamente. A detecção precoce e o tratamento adequado são cruciais para um bom prognóstico e para conter a propagação da doença.