A metadona é um medicamento potente, da classe dos opioides sintéticos, utilizado principalmente no tratamento da dor crônica severa e como parte de terapias de reabilitação para dependência de drogas como a heroína ou a morfina. Trata-se de uma substância altamente eficaz, mas que exige uso controlado, pois seu potencial de causar efeitos colaterais e dependência é elevado.
Este artigo traz uma explicação completa sobre a metadona, seu mecanismo de ação, indicações, formas de uso, riscos associados, exigência de receita médica, alternativas terapêuticas e orientações importantes para pacientes e profissionais da saúde.
O que é a Metadona?
A metadona é um opioide sintético de longa duração, que atua diretamente nos receptores μ-opioides (mu) do sistema nervoso central. Esses receptores são responsáveis pela modulação da dor, do humor e do comportamento aditivo.
Inicialmente desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial como substituto da morfina, a metadona ganhou destaque nas últimas décadas tanto no tratamento da dor crônica quanto na terapia de substituição de opioides (TSO) — especialmente no combate à dependência de heroína, morfina e oxicodona.
A substância pode ser encontrada nas seguintes formas:
- Comprimidos;
- Solução oral;
- Injeções intramusculares ou intravenosas.
Para que serve a Metadona?
A metadona possui dois principais usos clínicos:
1. Controle da dor crônica intensa
É indicada em situações onde o paciente sofre com dores refratárias a outros analgésicos, como:
- Dor oncológica;
- Dor neuropática intensa;
- Dor pós-operatória de grande porte;
- Lombalgia crônica grave;
- Dor em doenças degenerativas ou terminais.
Sua longa duração de ação — podendo alcançar até 24 horas — permite um controle estável da dor com menos doses diárias.
2. Tratamento da dependência de opioides
A metadona também é amplamente utilizada em programas de tratamento de usuários de drogas, ajudando a reduzir sintomas de abstinência e desejos compulsivos.
Nesse contexto, ela substitui a droga ilícita (como heroína ou morfina), mas de forma controlada e supervisionada, diminuindo os riscos de recaída, infecção (HIV/Hepatite), criminalidade e mortes por overdose.
Como a Metadona funciona?
A metadona se liga aos receptores μ-opioides, bloqueando os efeitos de outros opioides e, ao mesmo tempo, aliviando a dor. No contexto da dependência química, ela:
- Reduz o desejo intenso pela droga;
- Minimiza os sintomas de abstinência;
- Bloqueia os efeitos eufóricos de outros opioides;
- Permite reabilitação social com maior estabilidade emocional e física.
Ela é absorvida lentamente pelo organismo, com efeito prolongado e ação gradual, o que ajuda a manter níveis estáveis no sangue e reduzir o risco de compulsão.
Como a Metadona deve ser usada?
O uso da metadona deve ser sempre orientado por um médico, pois a dose adequada varia conforme a condição do paciente, tipo de tratamento e resposta individual.
No tratamento da dor:
- Dose inicial: 2,5 mg a 10 mg, a cada 8 ou 12 horas.
- Doses podem ser ajustadas gradualmente, conforme a resposta.
Na terapia de dependência de opioides:
- Dose inicial: geralmente 20 a 30 mg por dia, com aumentos progressivos.
- Manutenção: varia entre 60 e 120 mg/dia em muitos casos, com controle rígido.
Importante: A meia-vida da metadona é longa (até 60 horas), o que exige cautela para evitar acúmulo no organismo e risco de overdose.
Quais são os efeitos colaterais da Metadona?
Assim como outros opioides, a metadona pode causar diversos efeitos adversos, especialmente em doses elevadas ou uso prolongado.
Efeitos colaterais comuns:
- Sonolência;
- Tontura;
- Constipação (prisão de ventre);
- Náusea e vômitos;
- Suor excessivo;
- Boca seca.
Efeitos colaterais graves:
- Depressão respiratória (principal causa de morte por overdose);
- Arritmias cardíacas (prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma);
- Sedação profunda;
- Confusão mental ou alucinações;
- Dependência física e psicológica;
- Hipotensão (queda de pressão).
A associação com álcool, benzodiazepínicos ou outros depressores do sistema nervoso central pode potencializar os efeitos sedativos e levar à morte.
A Metadona causa dependência?
Sim. Mesmo quando utilizada em ambientes terapêuticos, a metadona pode causar dependência, tanto física quanto psicológica. Por esse motivo, seu uso requer acompanhamento profissional contínuo.
Contudo, quando usada em programas de redução de danos, a metadona representa uma opção eficaz e segura para minimizar os riscos da dependência de opioides ilícitos e melhorar a qualidade de vida do paciente.
A Metadona precisa de receita médica?
Sim. A metadona é classificada como medicamento de controle especial, exigindo receita azul (tipo A) para ser adquirida legalmente nas farmácias. Essa receita deve ser retida pela farmácia e é válida por 30 dias.
Além disso, em casos de uso terapêutico para dependência química, o medicamento geralmente é distribuído por programas públicos de saúde sob rígido controle e supervisão.
Metadona é vendida no Brasil?
Sim. A metadona é regulamentada pela ANVISA e pode ser encontrada em farmácias e hospitais, sob nomes comerciais como:
- Metadon®;
- Metadolex®;
- Formulações manipuladas em farmácias especializadas.
No Brasil, ela também é disponibilizada em serviços de saúde pública para o tratamento de dependência química, principalmente nos CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas).
Quem não deve usar Metadona?
A metadona é contraindicada para:
- Pessoas com alergia à substância;
- Pacientes com bradicardia grave ou distúrbios do ritmo cardíaco;
- Indivíduos com asma não controlada ou insuficiência respiratória severa;
- Gestantes (exceto com orientação médica especializada);
- Pacientes com doenças hepáticas ou renais graves, sem monitoramento adequado;
- Uso concomitante com álcool ou benzodiazepínicos sem indicação.
Existe metadona genérica?
Sim. A metadona está disponível em versões genéricas com o nome cloridrato de metadona, seguindo os mesmos padrões de qualidade, eficácia e segurança dos medicamentos de marca.
Quais são as alternativas à Metadona?
Dependendo da condição clínica, existem outras opções para o controle da dor ou no tratamento da dependência química.
Para dor intensa:
- Morfina;
- Oxicodona;
- Fentanil;
- Buprenorfina (menos sedativa e com menor risco de depressão respiratória).
Para dependência de opioides:
- Buprenorfina + Naloxona (Suboxone®): mais segura que a metadona, com menor risco de overdose;
- Naltrexona: bloqueia os efeitos dos opioides e ajuda a evitar recaídas (mais usada após a fase de abstinência).
A escolha entre essas alternativas depende do perfil do paciente, resposta anterior ao tratamento e riscos envolvidos.
A metadona é um medicamento poderoso e essencial tanto no tratamento da dor intensa quanto na reabilitação de pessoas dependentes de opioides. Sua eficácia é reconhecida mundialmente, mas o seu uso requer extrema responsabilidade, controle médico rigoroso e respeito às dosagens.
Ela não é indicada para casos de dor leve ou uso esporádico. A automedicação com metadona é extremamente perigosa e pode levar a consequências graves, incluindo overdose e morte.
Quando utilizada corretamente, a metadona pode ser uma aliada poderosa na busca por alívio da dor ou recuperação da dependência química.